Qual é o
propósito de nossas vidas? É simplesmente comer, dormir, divertir-se, procriar,
lutar e morrer? Se for assim, dificilmente é humano, porque todas as criaturas
inferiores fazem o mesmo. Elas vivem despreocupadamente e agem de acordo com os
desígnios da Natureza, e o fazem com inocência, graça e beleza. Os seres
humanos, vivendo este tipo de vida fisicamente centrada e agindo
conscientemente por motivos egoístas, dando manifestação organizada a sua
crueldade e cobiça, poluem a Terra com o mal e introduzem um elemento de feiúra
nas operações da Natureza. Diz-se que o mal existe somente no nível da mente
humana, porque reconhecidamente é aí que o dano é feito, e o egoísmo praticado
obstinadamente.
Infelizmente
poucas pessoas ponderam sobre o propósito suas próprias vidas e da vida em
geral. Muitos homens e mulheres vivem mecânica e irrefletidamente, simplesmente
se adaptando aos propósitos e sistemas de seu ambiente, tornando o prazer físico
e a satisfação egoísta o centro de suas atividades. As religiões e os livros
sagrados têm tentado chamar a atenção para os propósitos mais profundos da
vida, mas de uma maneira tão confusa que o seu impacto termina sendo muito
vago. Os dogmas, as injunções e tradições em diversos assuntos irrelevantes à
essência das questões da vida religiosa estão misturados com os conselhos sobre
a vida superior. Neste caso, uma coisa é receber conselho em tais assuntos, e
outra é investigar seriamente por si mesmo o sentido e o propósito da vida.
A qualidade
da vida de uma pessoa muda quando o impulso para conhecer a verdade é sentido
profundamente. Por milênios não houve mudança essencial na sociedade, porque
geralmente as pessoas ouvem apenas mecanicamente os ensinamentos religiosos. As
condições externas mudaram, mas não mudou o psiquismo da Humanidade, com suas
cobiças, seus rancores, apegos e agressões. Pois para haver mudança, a vida dos
sentidos e a busca por excitamentos mentais deve realmente morrer e ser
substituída por um anseio de compreender e descobrir em primeira mão a verdade
sobre a vida. O singelo poema de William Blake de Canções de Inocência
desperta-nos para as perguntas pelas quais cada forma de vida nos confronta:
Cordeirinho,
quem te fez?
Conheces
quem te fez?
Quem te deu
vida e mandou alimento,
Pelo córrego
e pelo prado;
Quem te deu
roupas de beleza.
Roupas muito
suaves, claras e quentes;
Quem te deu
esta voz terna
Que faz os
vales todos exultarem?
Cordeirinho,
quem te fez?
Conheces
quem te fez?
Da mesma
forma, referindo-se ao tigre feroz, Blake pergunta: "Aquele que fez o
cordeiro, também te fez?" (Canções de Experiência).
Por
incontáveis meios a Natureza exibe milagres a cada minuto. Cada criatura,
grande ou pequena, é provida do que necessita, da lã para mantê-la quente, ou da
habilidade para construir um ninho. E fácil desconsiderar as miríades de
maravilhas do corpo e da mente, atribuindo tudo aos genes. Mas como os genes
tornaram-se tão inteligentes? Há uma inteligência universal, um supremo amor
trabalhando, moldando e movimentando todas as coisas em direção a um fim maior?
Visto que a
mente humana é capaz de elaborar estas perguntas, devemos considerá-las
seriamente ao respondê-las. Devemos ser compelidos interiormente a indagar por
que idéias de justiça, beleza e verdade têm tido importância na cultura e
consciência humanas, mesmo que não tenham nada a ver com a luta pela
sobrevivência, que édito caracterizar o processo de evolução. Em todas as
épocas, homens e mulheres sofreram torturas por dedicarem suas vidas à verdade.
Por que estes poucos destemidos em sua lealdade à verdade, os que trilharam a
senda da honradez ou trouxeram informações de uma beleza transcendental a este
mundo são respeitados acima do resto da Humanidade, mesmo por aqueles que
egoisticamente buscam seus próprios fins? Certamente porque apesar das pressões
às quais foram submetidos, as pessoas compreendem, pelas vidas das almas puras
e nobres, que a verdade tem um poder transformador. Disse Jesus, em João 8:32
"Vocês conhecerão a verdade, e a verdade os libertará..."
Satyan nasti
paro dharmah "Não há religião superior à verdade" era o antigo lema
da família de Kasi, ou Varanasi, também escolhida por seus fundadores como lema
da Sociedade Teosófica. Isto sugere que o genuíno progresso está relacionado com
a busca da verdade. A busca de objetivos menores, principalmente de riqueza e
prazer, Artha e Kama, embora compreensíveis e aceitáveis, quando dentro de
limites razoáveis, com uma noção de responsabilidade social ou Dharma —
resultam na degeneração do mundo, que é o que estamos testemunhando. Somente
pela descoberta do mais profundo significado da vida e do propósito cósmico
subjacente no mundo manifestado, pode a natureza humana elevar-se a sua
destinada dignidade.
O que é a
verdade? A maioria das pessoas acredita que a verdade é tão abstrata e remota
que não pode ser uma preocupação séria para a média das pessoas. Sob este ponto
de vista, o assunto é melhor tratado por filósofos e especialistas. Como
escreveu Francis Bacon: "O que é a verdade? disse ao imitar Pilatos, e não
esperando uma resposta." (Ensaio Sobre a Verdade) Isto éo que as pessoas
gostam de fazer - afastar-se do debate. Mesmo assim, aprender a contestar é de
importância suprema para a Humanidade, e está intimamente ligado ao fato de tratar
com sabedoria os problemas e as obrigações diárias. A clássica metáfora da
cobra e da corda ensina que o pensamento e a ação mudam completamente de acordo
com o que a pessoa vê. Aceitamos como verdadeiro o que conhecemos e vemos, mas
não inquirimos se realmente vemos e conhecemos o que existe. Mesmo a forma
material, a estrutura e a substância dos objetos que nos cercam, não é o que
pensamos que seja, porque nossos sentidos têm grandes limitações. Ainda assim,
rapidamente fazemos julgamentos e pensamos conhecer a verdade das coisas. A
enfermidade da certeza domina nossas mentes, e logo se torna dogmatismo,
fanatismo e intolerância.
O dogmatismo
e autoritarismo das igrejas começa a desintegrar-se com o desenvolvimento da
ciência, cujo objetivo é a verdade. O desenvolvimento científico depende da não
submissão a uma autoridade final - Newton, Einstein ou outro - e o não se
aferrar dogmaticamente a qualquer ponto de vista. O trabalho científico é
baseado em observação imparcial, repetidos testes e experimentos, pensamento
objetivo (impessoal) e vontade de revisar cada teoria à luz de fatos e
observações novas. Esta atitude é imprescindível para o progresso — não apenas
no campo material, mas para a investigação da verdade em qualquer nível.
Infelizmente,
a comunidade científica tem se mostrado cautelosa em explorar de maneira
científica qualquer coisa fora de sua própria área de investigação. A
existência de campos não-materiais, forças e fenômenos é um fato, mas os
cientistas preferem imitar Pilatos, recusando-se a examiná-los imparcialmente,
por medo de que sua visão materialista possa ser perturbada. Essa abjuração na
busca pela verdade, a contestação dogmática ou fanática das dimensões da
existência que os cientistas não conhecem e não querem conhecer, resultou na
cura da enfermidade (pelo menos em alguma extensão), mas matando o paciente -
sendo a enfermidade o dogmatismo das igrejas; e o paciente, o espírito e o
impulso religioso.
A educação
científica tem desprezado os mais profundos e sutis aspectos da existência,
desconsiderando a vida, seus valores, propósitos e sentido e favorecendo os
bens do progresso —isto é, o sucesso, o dinheiro e os prazeres. O deplorável
mundo materialista e consumista atual, voltado para os prazeres, é o produto
bastardo da crença de que nada existe além do que é quantificável e conhecido
pela metodologia científica. A negação de sentido, propósito e valores próprios
gerou atitudes de insensibilidade e crueldade improcedentes para seres humanos
e milhões de animais. Graves perigos ecológicos ameaçam a Terra e seus
habitantes porque o hedonismo é agora quase universalmente a filosofia
preferida. O hedonismo sempre existiu. Contudo, sendo enorme a capacidade
produtiva do mundo moderno, o apelo aos prazeres e às possessões é intensificado,
e resistir às tentações do mercado e dos centros de diversões é muito difícil
para a maioria das pessoas. A competição e o estresse envolvidos na busca
destes prazeres e estilo de vida autocentrado estão constantemente explodindo
em atos de frustração e violência. A ciência abriu uma caixa de Pandora, e o
assim chamado "progresso" está rasgando em pedacinhos o que resta da
vida civilizada.
Charles
Birch, ganhador do prestigioso Prêmio Templeton, conferido a cientistas que
promovem a compreensão religiosa, diz em seu livro On Purpose (New South Walles
University Press, 1990). "O conceito de ‘homem econômico’ trata dos seres
humanos como objetos, não como sujeitos. É uma visão materialista do ser
humano. Seu valor é seu valor para o Produto Nacional Bruto. Seu valor é seu
serviço. Se este serviço puder ser feito por uma máquina, seu valor
desaparece". Casualmente Birch também cita o filósofo Whitehead que diz:
"Os cientistas, animados pelo propósito de provar que eles não têm
propósitos, constituem um interessante assunto para estudo’ A falta de piedade
e de preocupação com os seres humanos inevitavelmente se amplia em formas mais
cruéis para outros seres vivos, sendo todos tratados como objetos que não
possuem propósito intrínseco, não tendo direito à vida e a ser feliz. O ponto
de vista moderno reduziu a dignidade de toda vida, e por promover o consumismo
e a luxúria exacerbou os grandes problemas da guerra, do desperdício, da
destruição do meio ambiente, da crueldade e da ganância.
Felizmente,
há uma minoria de cientistas e pensadores não-convencionais que apóiam o que é
chamado de ponto de vista pós-moderno — que encoraja um senso de
responsabilidade e respeito pela vida — a investigação do sentido e do
propósito nas manifestações da Natureza. O físico Paul Davies afirma: "O
pequeno e o grande, o local e o global, o atômico e o cósmico sustentam-se
mutuamente e são aspectos inseparáveis da realidade. Não se pode ter um sem o
outro. A simples idéia reducionista antiga, de um Universo que simplesmente é a
soma de suas partes, está completamente descartada pela ffsica atual Há uma
unidade no Universo que vai muito além de uma simples expressa o de
uniformidade’: (Citado por Birch em On Purpose, p. 69).
A Unidade da
vida, a verdade da Totalidade é o ensinamento essencial, o cerne de todas as
religiões. O Chhandogya Upanishad (111 14.1) declara: "Tudo isto (o mundo
manifestado) é o Ser Eterno; do Qual tudo isto se origina, no Qual tudo
desaparece e pelo Qual tudo é mantido". Sri Krishna, que no Bhagavad Gita
não é um deus hindu, mas a Vida Universal, declara: "Eu sou a vida de
todos os seres" Esta imanência e onipresença da divina energia Única em
todo Universo é um tema que pode ser observado em todas as digressões de cada
tradição religiosa. Elas todas ensinam que o puro Amor, que não pede
retribuição, não favorece ninguém, é a verdade viva da unidade, citando São
Paulo (Romanos 13:10): "O amor é o cumprimento da Lei".
Mas como
dissemos anteriormente, ouvir palavras que expressam a verdade não é o mesmo
que compreender esta verdade. As palavras são apenas mapas, e como mapas não
podem trazer a experiência do território, as palavras não podem tornar-se um
substituto para o conhecimento direto que é a verdade. Infelizmente a
substituição continua sempre; assim as palavras fascinam a mente de tal maneira
que ela cai na ilusão de que conhece o fato ou a verdade. Krishnamurti falou
muitas vezes sobre a palavra não ser a coisa: a palavra "árvore" não
é a árvore. Em A Primeira e Ultima Liberdade, ele disse sobre a Verdade e a
Mentira: "Quando você ouve as palavras ‘Ama o próximo’, isto é uma verdade
para você? Isto é verdade somente quando você ama seu próximo; e este amor não
pode ser repetido, somente a palavra pode ser repetida. Ainda assim, muitos de
nós ficamos felizes com a repetição de ‘ama teu próximo’ ou de ‘não cobiçar’.
Portanto, a verdade de outro ou uma experiência real que voce tenha tido, não
se tornam uma realidade apenas pela repetição. Pelo contrário, a repetição
impede a realidade". Isto implica que a verdade não pode ser passada de um
para outro. Nenhum guru pode agir como um procurador. Assim como um medicamento
não pode ser tomado por um substituto, mesmo por um pai dedicado quando um
filho cai doente, é insensatez acreditar que a sabedoria do guru nos curará da
cegueira espiritual. Não há alternativa para a experiência direta da verdade
por cada pessoa. A menos que seja conhecida intimamente, não é a verdade —mas
somente uma sombra enganadora.
A verdade é
o bem-estar oculto dentro do coração de cada ser. E o divino elemento invisível
que ilumina nossa consciência, quando ela está na circunstância correta, com a
luz da beleza, significado e reverência. O caminho para isto é obstruído por
uma massa de detritos em forma de paixões, preconceitos e a insistente
auto-imagem. O Viveka-Chudaman, de Sankaracharya, (verso 67), diz que um
tesouro oculto não pode ser desvendado ao dizermos: "Aparece".
Conhecemos sua localização por fontes confiáveis e depois assumimos o trabalho
de cavar, removendo terra e pedras. Da mesma maneira, a verdade é descoberta
depurando a consciência de todas as obstruções à percepção. Contudo, as
religiões estabelecidas raramente encorajam esta purificação, que envolve
questionamento e ponderação, e preferem estimular seus seguidores a crer
cegamente no que é oficialmente declarado como verdade. Isto confere ao clero,
às autoridades eclesiásticas o máximo poder sobre a mente do povo. Seu rebanho
sente que não pode conhecer a verdade sem intermediários, que deve confiar
nestes mediadores para a futura passagem segura em outros mundos. Como a
investigação e o pensamento independente na busca pela verdade é um perigo para
a estrutura do poder eclesiástico, as religiões organizadas pedem e muitas
vezes reforçam a dependência, a obediência e o conformismo.
Assim, a
religião e a ciência interrompem inesperadamente sua dedicação à verdade. Elas
falham em seu papel declarado de promover a busca pela verdade porque isto
poderia alijar tudo que se refere ao auto-interesse. Madame Blavatsky comparou
as duas a dragões dos tempos antigos "um devorando o intelecto; o outro,
as almas dos homens". Mais adiante ela diz "mesmo assim, elas podem
reconciliar-se com a condição de que ambas devam limpar suas casas, uma das
antigas escórias humanas, e a outra das excrescências terríveis do materialismo
moderno".
Retornemos
agora à errônea concepção de que a verdade é remota ou abstrata. É somente em
nossa imaginação que isto ocorre. Para chegarmos à verdade, precisamos apenas
começar de onde estamos e não imaginar que, como um astronauta, podemos chegar
em alguma região estelar onde ela está entronizada. No começo, a sabedoria pode
estar numa investigação das verdades que nos cercam, por exemplo, a verdade dos
relacionamentos, que é um dos problemas mais sérios da sociedade humana. Devido
a nossa inabilidade de compreender os relacionamentos, vivemos com guerras
terríveis, crueldades, superstições, desigualdades, injustiças, pobreza e
exploração. No nível pessoal há desentendimentos, medos, solidão e outras
tristezas. Modificar por partes as condições externas, ou por revoluções
econômicas e políticas, novas teorias, etc., nunca resultou em nada que não
fosse mudança superficial e temporária. Onde está a solução? Como podemos
aprender qual é o relacionamento certo, aquele que espontaneamente traz ordem à
sociedade, bem como a liberdade necessária aos indivíduos para crescer moral e
espiritualmente, e não somente mental e intelectualmente - um relacionamento de
cooperação, amizade e confiança mútua?
Para
descobrir a verdade sobre a religião ou qualquer assunto, devem ser descartados
preconceitos e preferências pessoais. Esta é a abordagem científica, que é tão
valiosa nesta área como o é ao investigar fatos e fenômenos materiais. Somos
condicionados a ver tudo sob um ponto de vista pessoal, "meu" país,
"minha" raça, "minha" religião ou "minha" classe
social. A Humanidade foi descrita como um enorme corpo cujos membros guerreiam
entre si. Involuntariamente nos situamos como parte de uma raça, de um país, de
uma classe ou sexo; na maioria das vezes, até mesmo a religião é herdada, e não
é escolhida com inteligência. Portanto, de geração em geração, preconceitos
baseados em rótulos como hindu, cristão, muçulmano, alto, baixo, etc., levam a
conflitos e a outras graves calamidades. Somente uma mente investigadora pode
livrar-se destas limitações da mente pessoal e perceber que o progresso humano
é essencialmente um crescimento da compreensão dos valores que harmonizam e
unificam. Ser verdadeiramente religioso significa aprender a ser uno com todas
as coisas vivas, e a incorporar valores como bondade e compaixão, simplicidade
e desapego, ausência de orgulho e vaidade. O profeta Maomé ensinou que "a
benevolência e a cortesia são atos de piedade" (Sayings of Muhammad, Dr. Suhrwardy,
1905, p. 4). Quando crenças, rituais e práticas que separam as pessoas não são
identificadas com a religião e são deixadas de lado, a paz se torna uma
realidade maior.
A
investigação objetiva da natureza dos relacionamentos também nos faz
compreender que a mente tem uma forte tendência a fugir de responsabilidades. A
maioria de nós denuncia imediatamente os erros do outro quando um
relacionamento se deteriora. Gostamos de fingir que a causa da desarmonia está
fora de nós, na maneira como o outro se comporta, ou nas circunstâncias
externas. Um exemplo nos dado de uma pessoa que caminhava sob um sol calcinante
numa colina rochosa, tentando a cada passo cobrir as pedras para evitar o calor
abrasador, até que alguém lhe disse que seria mais fácil proteger seus próprios
pés. Observação imparcial significa olhar para si mesmo honestamente para
observar como opera a mente — seu orgulho, seu amor por bens e poder, sua
insensibilidade — que são como cancros que envenenam os relacionamentos. A
harmonia surge quando a mente se liberta destas desordens internas. O mundo
inteiro mudaria se as pessoas compreendessem a importância de descobrir a
verdade sobre si.
Na Natureza
há uma maravilhosa diversidade de formas, funções e características. Esta
diversidade é enriquecedora. Seria agradável vermos apenas um tipo de árvore
sobre a Terra, ou apenas uma espécie de pássaro ou animal? Ainda assim reagimos
como se as diferenças no cuidado, caráter e na aparência de outras pessoas
significassem uma ofensa, e em nossas próprias mentes estamos esperando
conformismo aos padrões estabelecidos. A falta de sensibilidade e abertura para
o que existe, as resistências que construímos, afastam-nos da beleza e do
mistério da vida, que foi experienciado não somente por místicos, poetas e
artistas em seus momentos de percepção intensificada, mas também por
cientistas, quando seu único objetivo era encontrar a verdade. Heisenberg
escreveu uma carta: "O terreno total dos inter-relacionamentos na teoria
atômica está súbita e claramente exposto ante meus olhos ... surge. Nem mesmo
Platão poderia acreditar que fosse tão belo. Porque estes inter-relacionamentos
não podem ser inventados; eles estão af desde a cria ção". (Citado por S.
Chandrasekhar em Truth and Beauty, Penguin, 1991, p.22). Numa ocasião Heisenberg
sorrindo, disse a sua esposa: "Fiquei muito feliz por observar sobre o
ombro do bom Deus enquanto ele trabalhava".
Todo o
Universo é ordem e alegria, significado e propósito. Talvez não saibamos que
coisas divinas e maravilhosas perdemos por nos fecharmos em nós mesmos, em
nossas próprias opiniões, preferências e aversões, em vez de mantermos aberta a
mente para a verdade que aguarda revelar-se em todo lugar, tanto na minúscula
partícula como no Todo. Finalizo com as linhas de Edmund
Holmes (do The Oxford Book of English Mystical Verse):
"Respiro
o alento da manhã. Estou unido à Alma-Mundo.
Não vivo
mais minha vida, mas a vida do Todo existente".
Nota:
Palestra
proferida por Radha Bumier, em 1º de agosto de 1998, no Habitat Centre, Nova
Delhi, como parte de uma série de palestras sobre Credos para um Novo Milênio,
organizada pela Fundação para a Responsabilidade Universal, do Dalai Lama.
Extraído da revista The Theosophist, setembro 1998.Tradução de Izar G. Tauceda
(Loja Jehoshua, Porto Alegre - RS).
Sobre a
Autora: Presidenta Internacional da Sociedade Teosófica
Fonte:
Revista Theosophia - Janeiro/Março de 1999
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