Quando o discípulo esta pronto o mestre aparece, e só nesse momento o mestre instrui o neófito, pois o conhecimento e a sabedoria devem ser merecidos, e entregues somente a quem realmente estiver pronto e de coração puro, caso contrário seria uma grande tragédia, em mãos profanas, a própria legislação de Atenas, onde existiam escolas de mistérios, punia as pessoas que falavam oque acontecia nos rituais de iniciações, na melhor das intenções, que era fazer com que o conhecimento das leis divinas não caíssem em mãos trevosas, que usariam tal conhecimento de forma egoísta em oposição ao plano de Divino. Aqueles que compreendiam o verdadeiro significado dos mitos, firmavam um pacto de silencio e se o transgredissem revelando a algum profano, eram punidos; o iniciado deve percorrer um longo caminho de provações, iniciações nos mistérios.
Mateus 13
“Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça.”
“Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos
céus, mas a eles não lhes é dado;”
“Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não
vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem.”
“Porque o coração deste povo está endurecido, e
ouvirão de mal grado com seus ouvidos”.Abaixo transcrevo Raul Branco:
*A primeira iniciação é nascimento é quando a nasce na consciência a luz do mundo, a luz da espiritualidade, Jesus representa a centelha divina no homem, o Cristo. Sua mãe, Maria, simboliza a alma espiritual, situada no plano mental superior. José, seu pai, figura como a mente inferior. Por isso, não foi José quem gerou a criança, pois a luz da intuição não pode ser gerada pela mente concreta. Todo o cenário do nascimento é uma alegoria, uma parábola, assim como toa a vida de jesus,
*A segunda iniciação é o batismo, o mergulho na água, a água é o símbolo das emoções, das paixões, o mergulho representa a sintonia com a dor do próximo, aceitar compartilhar a dor do semelhante.
*A terceira iniciação seria, então, simbolizada pela comunhão do pão e do vinho dos doze apóstolos. Toda a cena e seus personagens, no seu sentido esotérico, deve ser entendida como simbólica. Jesus e seus doze apóstolos simbolizam a totalidade do ser humano, sendo a casa onde ocorre a ceia a representação do corpo físico, o templo de Deus. A ceia tem lugar no pavimento superior (Lc 22:11), ou seja, num estado de consciência elevado. Jesus representa a natureza divina do homem, o Cristo interior. Os doze apóstolos personificam as características do homem no mundo, com suas qualidades e fraquezas.[2] Pedro, por exemplo, representa a impulsividade e pusilanimidade do homem que ainda não aprendeu a controlar suas emoções. Judas, o traidor, com sua cobiça e ambição, simboliza o lado sombra que acompanha todo discípulo até as últimas etapas do caminho. João, o discípulo que Jesus amava, retrata a alma, a unidade de consciência, que busca a inspiração do Alto, simbolicamente reclinando sua cabeça (símbolo da mente) sobre o coração de Jesus (símbolo do Cristo interior), para aí permanecer no aguardo da Graça Divina.
A sagrada eucaristia representa a integração do ser humano. Os aspectos da natureza humana, com suas negatividades e qualidades, os doze discípulos, recebem de Jesus, o pão e o vinho, símbolos da carne e sangue do Cristo, com a admoestação: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6:53). Obviamente Jesus estava falando em linguagem cifrada, indicando que a carne do Cristo significa o conhecimento espiritual, o sagrado alimento que confere iluminação ao intelecto humano. O sangue de Cristo simboliza a vida divina, o fluido essencial que constantemente se verte sobre todo o universo, sem a qual nenhum ser poderia viver. A consciência da divina presença no homem iluminado confere a certeza da imortalidade da natureza superior do homem, a vida eterna de que nos fala a Bíblia.[3] Após a exaltação conferida pela terceira iniciação, a inexorável lei divina da harmonia leva o iniciado a experimentar o seu oposto. No relato bíblico isso é apresentado como a experiência no Getsêmani, que ocorre apropriadamente após a ceia pascal (Mt 26:36-45). Jesus convida três de seus discípulos mais próximos a acompanhá-lo, para juntos orarem. Mas naquele momento de angústia, em que o iniciado descortina sua missão e os sacrifícios e sofrimentos que lhe sobrevirão, ele verifica que está só. Não conseguirá nenhum apoio externo ou interno nesse momento de solidão, o que é simbolizado nos evangelhos pelos discípulos dormindo durante a oração (Mt 26:40-45). Numa atitude normal a qualquer ser humano, ao perceber o intenso sofrimento que lhe aguardava, Jesus invoca a Deus e diz: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice” (Lc 22:42). Porém, como iniciado comprometido com a missão de redenção da humanidade, aceita as conseqüências de uma vida altruísta de total desapego, ainda que ao preço de sua própria vida, e submete-se humildemente à vontade divina.
*A quarta iniciação é representada na morte e na ressureição, Os sofrimentos intensos pelos quais passa o iniciado que aceita carregar a cruz do mundo e assumir parte do pesado carma da humanidade. A morte para o mundo e a ressurreição para a vida eterna, os dois aspectos complementares que simbolizam a quarta iniciação, têm lugar em Jerusalém, a cidade santa. O iniciado deve entrar nesse elevado estado de consciência em plena posse de suas faculdades humanas, ou seja, num corpo físico. Isso é simbolizado pela entrada de Jesus em Jerusalém montado num jumento, um quadrúpede domesticado, que representa os quatro corpos inferiores do homem (físico, etérico, astral e mental concreto) devidamente disciplinado.
O julgamento é feito por Pilatos, o governante da ordem exterior, que simboliza a personalidade. Jesus é devidamente apresentado como aquele que procura subverter a nação e, quando interrogado por Pilatos, confirma que é o Cristo, rei da natureza humana. A personalidade, ao lavar as mãos, procura, como sempre, justificar-se alegando não ter culpa por condenar um inocente, pois está atendendo ao clamor da plebe (as paixões) e à recomendação dos sacerdotes, os líderes da natureza inferior, que representam o egoísmo, a ignorância, o orgulho e a ambição. Seguindo a tradição, Pilatos pergunta ao povo se prefere a libertação de Jesus ou do criminoso Barrabás. As paixões pedem a crucificação da natureza divina e a libertação do criminoso com o qual, em sua ignorância, identificam-se. Porém, Barrabás significa, em aramaico, o filho do pai. Portanto, a natureza inferior, mesmo com a conivência da personalidade, jamais conseguirá matar o Cristo. Ao exigir a libertação do usurpador Barrabás, estará simplesmente permitindo que o filho do Pai celestial, que é a alma ignorante de sua verdadeira natureza, continue a vagar pelo mundo até redimir-se de todos seus crimes contra a grande Lei para, então, retornar à casa paterna como o Cristo triunfante.
A morte e a ressurreição do Cristo representam alegoricamente a quarta iniciação. O que morre não é o corpo físico, mas o sentido pessoal de separatividade. O que ressurge dos mortos é a alma agora consciente da unidade com o Todo e com todos os seres. A partir desse momento a alma pode deixar o sepulcro terreno, que é o corpo físico, sem nenhum lapso de consciência e entrar nas regiões superiores do mundo celestial.[9] A vivência da unidade confere ao iniciado uma profunda compaixão. Ele agora, além de procurar aliviar a dor dos que sofrem injustiças e violências, busca ajudar os injustos e criminosos. Ele sabe que o injustiçado, caso tenha a atitude correta, estará terminando seu ciclo cármico, enquanto o criminoso está iniciando o seu, atraindo para si pesada carga de sofrimento, na justa medida do sofrimento que causou. O iniciado só estará pronto para a quarta iniciação quando puder perdoar aqueles que lhe ferem, bem como os que ferem a todos os fracos e oprimidos, como Jesus, que em meio à agonia da crucificação, disse: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem” (Lc 23:34).
*A quinta iniciação representa a ascenção ao céu, a alma (Jesus) agora venceu a morte, porque morreu para o mundo. Simbolizando o término de seu ministério terreno, o iniciado diz, como Jesus na cruz: “Está terminado” (Jo 19:30) e “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23:46).
No relato bíblico Jesus retorna dos mortos e fica algum tempo instruindo seus discípulos, preparando-os para prosseguirem com o ministério de salvação das almas. Esse retorno ao mundo terreno, seja num corpo físico, seja num corpo sutil, dependendo dos textos consultados, comprova o compromisso do iniciado em permanecer em nossa esfera terrena instruindo e ajudando a humanidade. Chega finalmente o dia que, em grande glória, ele ascende ao céu. No texto Pistis Sophia a ascensão é descrita de forma tocante, com a descida de anjos portando seus mantos de luz. Uma vez envolvido na luz, Jesus é transfigurado e seus discípulos não podem agüentar o brilho de sua luz até que Jesus desaparece no alto. Jesus, como todo o adepto que recebeu a quinta iniciação, pode agora dizer: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30).
A quinta iniciação indica o término do aprendizado humano. O Mestre de Compaixão e Sabedoria alcança a perfeição e passa a ser um salvador de almas. Todas as tentativas de descrever a natureza desses excelsos seres são infrutíferas, pois não existe termo de comparação em nosso mundo terreno, já que eles agora pertencem a uma outra categoria de seres, muitas vezes descritos como divinos. São verdadeiros mensageiros plenipotenciários de Deus, trazendo, como Jesus, a eterna mensagem de salvação para as almas sofredoras. E essa é a meta que o Pai celestial estabeleceu para todos nós.
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