terça-feira, 18 de setembro de 2018

Dificuldades da Senda




O simples fato de “acender a luz” da  energia búddhica em nossa alma,  ainda que fracamente,  já provoca uma alteração e uma desacomodação no carma individual.  Em pequena escala, altera-se também o carma coletivo.

Quando os Contratempos Surgem do Nada

Os contratempos  parecem, então,  surgir do nada e por puro acaso: mas a verdade é que a expansão de consciência sutil  libera novas porções do carma acumulado,  que antes estavam ocultas. A cada expansão de consciência, surge  a necessidade prática de transmutar uma porção correspondente de ignorância, cuja presença em nós era desconhecida. E também se revelam novas possibilidades positivas.

Alguns peregrinos dão um ou dois passos no Caminho e decidem voltar à estagnação.  Confrontados com certo número de imprevistos, pensam que é mais seguro ficar na rotina e fugir das incertezas da Caixa de Pandora do Carma. Assim postergam a caminhada. Preferem obedecer ao medo instintivo, até que haja maturidade suficiente em suas almas.

Em outros casos não há desafios desagradáveis, mas surgem oportunidades “positivas” de avanço no mundo,  e elas provocam o mesmo efeito de afastar o peregrino do Caminho. Quando, mais tarde,  as possibilidades de progresso mundano voltam a se desgastar, nem sempre a oportunidade do aprendizado espiritual ainda está disponível.

No início, a variedade de motivos para que abandonemos o caminho é muito grande. Rancores pessoais, desafios financeiros, afetos familiares, doença de pessoas próximas, ambições de progresso individual nesta ou naquela esfera da vida –  qualquer acontecimento físico ou emocional, “positivo” ou “negativo”, pode servir de pretexto para interromper o aprendizado interior.

O carma de curto prazo é como um caleidoscópio atraente e luminoso, que muda incessantemente e usa fortes imagens  para chamar nossa atenção.  O caleidoscópio do curto prazo testará de mil formas a nossa decisão de caminhar em direção à sabedoria eterna e deixar de lado as experiências que hipnotizam e fascinam as almas demasiado jovens.

O campo de testes da nossa decisão  inclui o ambiente profissional e o núcleo familiar.   Os laços familiares – assim como a vida de casal  –  são importantes fontes de testes para nossa coerência. Só gradualmente seremos capazes de vencer os diferentes desafios.

A provação também ocorre em grupos humanos que têm um ideal nobre e elevado. No início, frequentemente tudo parece fácil e as pessoas pensam:

“Estamos todos na mesma onda”.

Passados os primeiros momentos agradáveis, surgem os testes sem aviso prévio;   começam as rixas pessoais, as antipatias,  e até as mediocridades.  Os sentimentos inferiores surgem,  disfarçados  como se fossem coisas legítimas e “espirituais”. Só pouco a pouco cai a máscara do processo da autoilusão, do qual nenhum estudante está livre, e surge a real sabedoria.

Para vencer os testes, é importante ter autoconhecimento e  autocontrole. E também  é necessário um estado de espírito incondicionalmente pacífico.

O aprendiz deve formar um estoque pessoal de sentimentos de boa vontade para  com os amigos, familiares,  colaboradores e  colegas de caminhada.

A Boa Vontade Primordial

Este sentimento primordial de boa vontade será usado quando as forças negativas do subconsciente coletivo, ou do subconsciente individual,  quiserem convencê-lo de que seus irmãos  estão “totalmente errados”, “não sabem de nada”, ou “estão atrapalhando”.

A chave para não julgar de modo injusto os companheiros de caminhada está em lembrar que cada pessoa  deve prestar contas fundamentalmente diante do tribunal da sua própria consciência, e que é seu dever responder aos outros apenas pela sua Sinceridade,  e pela Honestidade com que TENTA ajudar a Causa comum.  E mesmo nisso, mera desconfiança ou acusações infundadas devem ser  evitadas.

William Judge escreveu que o problema de pensar demasiado nos erros dos outros é que, desse modo, esquecemos dos nossos próprios erros. Acusações sem dados reais e com base em “palpites”, “intuições” ou  “certezas instintivas” são geralmente  usadas pelas forças negativas do subconsciente pessoal, ou do subconsciente coletivo, para destruir o respeito mútuo que dá legitimidade a qualquer grupo de idealistas, e também a toda empresa ou grupo familiar.

O ideal de Fraternidade não é um sentimento de amizade pessoal do tipo que pode encontrar-se no Rotary Clube ou  no Lions.

Quem quer que adote como meta a fraternidade universal  será testado,  não só pelo seu próprio subconsciente,  mas também pela ignorância acumulada coletivamente pelos seres humanos, o que inclui poderosas forças negativas agindo  por meios telepáticos.






                   O ELOGIO DAS DIFICULDADES

Não é possível aprender teosofia de modo prático sem experimentar um profundo sentimento de incomodidade. E isso por um motivo muito simples. É precisamente a incomodidade que afasta a acomodação. A acomodação é o apego, a ignorância feita rotina.

Este é um problema que vem de vidas anteriores. O mero estudo e a leitura atenta não são suficientes para identificar suas raízes.

É verdade que logo que alguém descobre a teosofia existe a possibilidade de que durante algum tempo tudo ocorra de modo agradável. O ensinamento parece fácil, familiar, compreensível. Os acontecimentos fluem de modo tranquilo. Há uma bênção sete dias por semana. Isso dura o tempo da recapitulação de lições de vidas anteriores. Esse é também o período de descanso necessário após as provações e os desafios que levaram o indivíduo à descoberta da teosofia. É o tempo do alívio que o reencontro provoca.

Passada a etapa cômoda, porém, o teosofista só conseguirá ir além da abordagem preparatória se tiver uma quantidade suficiente de fatores realmente incômodos em sua vida.

Jamais se deve pensar, portanto, que os obstáculos e as dificuldades nos afastam do caminho espiritual. Ao contrário. Eles nos aproximam. São eles que abrem espaço para expansão da consciência. Porém, é preciso examinar se queremos o caminho espiritual como ele é de fato - estreito, íngreme, incômodo, difícil, sempre morro acima - e não como os preguiçosos, os ingênuos e os desinformados gostariam que ele fosse.

Enquanto o eu inferior luta para superar com ética os obstáculos no Caminho, a consciência interna transcende a situação de curto prazo e faz com que o foco da consciência se desloque para níveis mais amplos da realidade, nos quais será encontrada a verdadeira força interior. É o esforço incômodo do eu inferior que dá direito cármico à libertação oculta da alma.

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Reproduzido de "O Teosofista", julho de 2010, pp. 1-2.

 “Experimente colocar sua vida a serviço da humanidade. Faça isso através da filosofia e da sabedoria universal – e verá o seu problema resolvido. Quando os desafios e obstáculos surgirem, agradeça por eles, porque eles são apenas mensagens e lições existenciais destinadas a treiná-lo na aprendizagem. Decifre as mensagens trazidas pelos contratempos, aprenda as lições de desapego e discernimento, e avançará no caminho. Lamente por aqueles que vivem acomodados na ignorância. Coloque à disposição deles a possibilidade do despertar.”




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