quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Sobre o Amor - Krishnamurti




Sabe, de fato não temos amor – essa é uma coisa terrível de se perceber. De fato não temos amor; temos sentimento; temos emocionalismo, sensualidade, sexualidade, temos lembranças de alguma coisa que pensamos que era amor. Mas de fato, brutalmente, não temos amor. Porque ter amor significa não ter violência, nem medo, nem competição, nem ambição. Se você teve amor, nunca dirá, "Esta é minha família." Você pode ter uma família e lhe dar o melhor que pode; mas ela não será "sua família" que está em oposição ao mundo. Se você ama, se existe amor, existe paz. Se você amasse, educaria seu filho não para ser nacionalista, não para ter apenas uma profissão técnica e tratar apenas de seus pequenos assuntos; você não teria nacionalidade. Não haveria divisões de religião, se você amasse.


Mas como essas coisas de fato existem – não teoricamente, mas brutalmente – este mundo hediondo, mostra que você não tem amor. Mesmo o amor da mãe por seu filho não é amor. Se a mãe realmente amasse seu filho, você acha que o mundo seria assim? Ela cuidaria que ele tivesse o alimento correto, a educação correta, que fosse sensível, que apreciasse a beleza, que não fosse ambicioso, ganancioso, invejoso. Então a mãe, conquanto ela possa pensar que ama seu filho, não ama. Então não temos esse amor.
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Certamente, desde que você consumiu-se na política, seu problema não é apenas escapar da sociedade, mas voltar totalmente à vida, amar e ser simples. Sem amor, faça o que puder, você nunca conhecerá a ação total que é a única coisa que pode salvar o homem.
Isso é verdade, senhor: nós não amamos, não somos realmente simples.”
Por que? Porque você está preocupado com reformas, com deveres, com respeitabilidade, com vir a ser algo, em passar para o outro lado. Em nome de outro, está preocupado com você mesmo; está preso em sua própria concha. Você pensa que é o centro desta bela terra. Nunca se detém para olhar uma árvore, uma flor, o rio correndo; e se por acaso olhar, seus olhos estão cheios com as coisas da mente, e não com beleza e amor.
Novamente, isso é verdade; mas o que a pessoa pode fazer?”
Olhe e seja simples.
Quando as coisas da mente não enchem seu coração, então existe amor; e só o amor pode transformar a loucura e a insanidade atuais no mundo – nunca sistemas, nunca teorias, nem da esquerda nem da direita. Você só ama realmente quando não possui, quando não é invejoso, não é ávido, quando é respeitoso, quando tem misericórdia e compaixão, quando tem consideração por sua mulher, seus filhos, seu vizinho, seus infelizes empregados.

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Não se pode pensar sobre o amor, o amor não pode ser cultivado, o amor não pode ser praticado. A prática do amor, a prática da fraternidade, ainda está dentro do campo da mente, portanto, não é amor. Quando tudo isso tiver cessado, então o amor surgirá, e você saberá o que é amar.
Obviamente, amor não é sentimento. Ser sentimental, ser emocional, não é amar, porque sentimentalismo e emoção são meras sensações. Uma pessoa religiosa que chore por Jesus ou Krishna, por seu guru ou alguma outra pessoa, é apenas sentimental, emotiva. Ela está se entregando à sensação, que é um processo de pensamento, e o pensamento não é amor. O pensamento resulta da sensação; por isso uma pessoa sentimental, emotiva, não é capaz de conhecer o amor. Não somos emotivos e sentimentais? Sentimentalismo, emocionalismo é somente uma forma de autoexpansão. Ser cheio de emoção não é amor, obviamente, porque a pessoa sentimental pode ser cruel quando seus sentimentos não são correspondidos, quando seus sentimentos não podem escoar. A pessoa emotiva pode ser motivada para odiar, para guerrear, para praticar genocídio. O homem sentimental, que verte lágrimas por sua religião, certamente não tem amor.
O perdão é amor? Quais as implicações do perdão? Você me insulta e eu fico ressentido, guardo na memória; então, por obrigação ou por arrependimento, eu digo: “Eu te perdoo.” Primeiro eu retenho, e depois eu rejeito. O que significa isso? Continuo sendo a figura central; sou eu que estou perdoando alguém. Enquanto houver a atitude de perdoar, eu sou a parte importante, e não o homem que supostamente me insultou. Assim, quando acumulo ressentimento e depois nego esse ressentimento, coisa que vocês chamam de perdão, isso não é amor. O homem que ama, obviamente não tem inimigos e é indiferente a todas essas coisas. Solidariedade, perdão, relação de possessividade, ciúme e medo – nada disso é amor. Essas coisas são coisas da mente, não é verdade?

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Neste mundo árido e despedaçado, não existe amor porque o prazer e o desejo desempenham os papeis preponderantes, no entanto, sem amor a vida diária não tem sentido. E você não pode ter amor se não houver beleza. A beleza não é algo que você veja – não é uma árvore bonita, um quadro bonito, um belo edifício ou uma bela mulher. Só há beleza quando seu coração e sua mente sabem o que é amor. Sem amor e sem esse senso de beleza, não há virtude, e você sabe muito bem que, faça o que fizer – melhore a sociedade, alimente os pobres – você só estará criando mais maldade, pois, sem amor, só há feiura e pobreza em seu coração e em sua mente. Mas, havendo amor e beleza, faça o que fizer, será certo, será apropriado. Se você sabe amar, então pode fazer o que quiser, pois isso resolverá todos os outros problemas.
O que é o amor? Não estamos discutindo teorias sobre o que o amor deveria ser. Estamos observando o que chamamos de amor: “Amo a minha mulher.” Não sei o que é que você ama; e duvido que você ame algo. Sabe o que significa amar? Será que o amor é prazer? O amor é ciúme? Um homem ambicioso é capaz de amar? – ele pode dormir com a mulher, gerar alguns filhos. E um homem que esteja lutando para se tornar importante na política, ou no mundo dos negócios, ou no mundo da religião (onde deseja se tornar um santo, deseja ser sem desejo), tudo isso faz parte da ambição, da agressão, do desejo. O homem competitivo é capaz de amar? E vocês todos são competitivos, não é verdade? – melhor emprego, melhor posição, melhor casa, ideias mais nobres, imagens mais perfeitas de si mesmos; vocês conhecem bem as situações por que passam. Isso é amor? Você é capaz de amar ao passar por toda essa tirania, quando pode dominar sua mulher ou seu marido, ou os seus filhos? Quando você está buscando o poder, há possibilidade de amar?

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Portanto, na negação do que não é amor, existe amor. Entendem, senhores? Precisam negar tudo que não seja amor, o que significa não ter ambição, não ser competitivo, não ser agressivo, não ser violento nem na fala, nem em ato, nem em pensamento. Quando você nega o que não é amor, então sabe o que é amor.
Na realidade, você não tem amor. Você tem prazer, tem sensação, tem apegos sexuais, tais como a família, a esposa, o marido, o apego a uma nação. Mas prazer não é amor. E o amor não é algo divino ou profano: não há divisão. O amor significa algo a cuidar: cuidar de uma árvore, do seu vizinho, do seu filho; providenciar educação correta para o seu filho, e não só colocá-lo numa escola e sumir - a educação correta, e não apenas educação tecnológica - e providenciar para que as crianças tenham os professores certos, o alimento certo, que elas entendam a vida, entendam o sexo. Restringir-se a ensinar geografia, matemática ou alguma coisa técnica que lhes dê um emprego – isso não é amor. E, sem amor, você não pode ser ético – você pode ser respeitável, isto é, você pode se conformar à sociedade: você não rouba, não vai atrás da mulher do próximo, não faz isso nem aquilo. Mas isso não é moralidade, isso não é virtude; é somente a conformidade da respeitabilidade. Respeitabilidade é a coisa mais terrível e repugnante do mundo, porque ela abrange tantas coisas feias. Por outro lado, quando existe amor, existe moralidade: faça você o que fizer, será ético se houver amor.


Link da Postagem: http://yoga-ensinamentos.blogspot.com/2013/01/sobre-o-amor-krishnamurti.html


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